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A imprensa antidemocrática e antipovo: como a mídia hegêmonica atende os interesses da elite


A imprensa antidemocrática e antipovo: como a mídia hegêmonica atende os interesses da elite
A arraigada orientação ideológica da mídia tradicional induz a práticas muitas vezes estranhas ao jornalismo

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A imprensa antidemocrática e antipovo: como a mídia hegêmonica atende os interesses da elite


A arraigada orientação ideológica da mídia tradicional induz a práticas muitas vezes estranhas ao jornalismo

Mesmo que intuitivamente, muita gente já entendeu que a imprensa comercial faz pouco jornalismo e muita propaganda de viés conservador e pró-mercado. Mas estudiosos, como Paolo Mancini, Daniel Hallin, Noam Chomsky e Robert McChesney, para citar apenas alguns, debruçaram-se em extensas pesquisas para demonstrar como e por que a mídia tradicional latino-americana é orientada verticalmente para atender os interesses da elite. Esses estudos podem parecer inofensivos dentro do campo acadêmico, mas a matéria-prima de suas pesquisas produz estragos profundos no mundo real, mais especificamente na democracia e no tecido social.

A arraigada orientação ideológica da mídia tradicional induz a práticas muitas vezes estranhas ao jornalismo normativo da objetividade e pluralidade, como sua instrumentalização pelas forças incontroláveis do mercado. Aplicando o mesmo método da extrema-direita nas redes sociais, a imprensa mainstream, em vez de prestar serviço público e de subsidiar sua audiência com conteúdo de qualidade, desinforma sob o disfarce de “notícias isentas” e de “análises técnicas” sobre os aspectos político-econômicos mais importantes do país, com o propósito de chantagear autoridades, pressionar a agenda política e jogar a opinião pública contra as instituições.

É uma tática adotada todos os dias em grande volume nos jornais de maior influência do país. Peguemos como exemplo a “análise” do jornalista da Folha de S. Paulo, Fernando Canzian, sobre a queda da miséria no país em decorrência das políticas públicas do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

É uma notícia superpositiva pela carga humana que representa, mas o jornalista preferiu desumanizar o tema. Para o “analista”, mais importante que matar a fome das pessoas é “zelar pelas contas públicas”. Em vez de reconhecer e elogiar a bem-sucedida política do governo Lula em tirar milhões de brasileiros da miséria, o “repórter especial” optou, assim como os tecnocratas do mercado, especular e fazer premonição, tarefa que deveríamos deixar para profetas e cartomantes. Mesmo porque, todas, todas as previsões de economistas e “especialistas” da imprensa para economia em 2023 não se concretizaram. Até o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, num ato falho de franqueza, admitiu que os “economistas erram muito”.

Mas a opinião do jornalista não tem o propósito de ser exato ou científico. A alma do artigo é ideológica com fins políticos: depreciar o resultado positivo do governo de reduzir a pobreza, colocar dúvidas sobre a política social do presidente e, de quebra, sugerir uma “solução” neoliberal aos planos do Executivo.

A “análise” do jornalista da Folha encerra duas pegadinhas e uma motivação camuflada, claramente encomendada pelos agentes do mercado e pelo seu patrão, a família Frias (de suas “análises isentas” depende seu emprego). Primeiro, afirma, sem provas, que a capacidade do Estado em impulsionar a renda dos brasileiros mais pobres (aumento das transferências de renda por meio do programa Bolsa Família, aumento da renda do trabalho e diminuição do desemprego) se esgotou. 

A régua do “analista” para a tal exaustão é o “espaço fiscal”, como se a meta fiscal e o corte dos gastos públicos (bate-estacas dos neoliberais e da imprensa corporativa) fossem princípios sagrados intocáveis. Essas premissas foram inventadas pelo mercado para, por um lado, impedir governos de investir em políticas públicas e assistenciais e, por outro, para assegurar recursos para o pagamento da colossal dívida interna. Um governo progressista tem a obrigação de não dar ouvido a elas. A agenda do governo não é, nem deve ser, a agenda dos rentistas que conflita com os interesses da sociedade.

Para o “analista”, a tarefa de dar continuidade à recuperação na renda do brasileiro deveria, na verdade, ser transferida para iniciativa privada. O jornalista deveria saber que a depender da iniciativa privada, a renda do brasileiro terá o mesmo fim que seus direitos trabalhistas: o fosso. Os fatos e os dados demostram que a reforma trabalhista – patrocinada e idealizada pela Faria Lima e abraçada de forma incondicional pela imprensa corporativa -, precarizou o trabalho, não gerou emprego com renda digna e pavimentou o caminho para a mão-de-obra escrava. 

O “repórter especial” ignora que a iniciativa privada, chamada carinhosamente pela imprensa de “setor produtivo”, nunca teve vontade nem vocação para ser locomotiva da economia. Sua aposta maior é o patrimonialismo, que suga os recursos sociais por meio de isenção e benefícios fiscais, de protecionismo comercial, de socorro econômico e do protagonismo estatal na implementação de programas de infraestrutura dos setores econômicos essenciais para o crescimento econômico do, como transportes, logística e saneamento.

O que as grandes corporações empresariais e o sistema financeiro fazem muito bem é ameaçar e blefar. Vendem e não entregam. No governo Dilma Rousseff, a presidenta ingenuamente deixou-se enganar pela Fiesp e por outros maganos, com a ajuda da pressão da mídia, com um cavalo de pau em sua política econômica e um estelionato eleitoral. Em um acordo costurado com o “setor produtivo”, parou de investir na economia e passou a focar no “equilíbrio fiscal”, contando com a promessa de que a iniciativa privada assumiria o papel de condutora da economia, com investimentos e geração de empregos. Nada disso aconteceu. O fim da história todos nós conhecemos: crise econômica e golpe de Estado. 

Depois de um extenso malabarismo retórico, o jornalista revelou finalmente a que veio com sua “análise” sobre a redução da miséria no país: propor a velha e milagrosa receita para todas as soluções do país, o corte de gastos públicos.

Esse tipo de “exame” enviesado — parte de uma campanha constante e interminável que vocaliza os interesses dos donos do dinheiro — é só uma gota dentro da pororoca que a imprensa corporativa produz todo santo dia contra o governo. Essa sabotagem, se não é bem-sucedida, pelo menos provoca muito ruído a ponto de dificultar a fluidez dos projetos do Executivo.

Essa capacidade de erodir a imagem de governos e autoridades públicas deve-se à vantagem de que a imprensa goza de uma posição privilegiada de incontestabilidade, o que lhe permite disseminar deliberadamente, sem ser responsabilizada por isso, negacionismos e desinformação, ao passo que amplifica apenas o ponto de vista da Faria Lima, sufocando, por outro lado, qualquer voz dissonante. 

A mídia tradicional ainda conta a seu favor com a Teoria de Brandolini (ou o princípio da assimetria das besteiras), segundo a qual a quantidade de energia necessária para refutar um disparate é de uma magnitude maior do que a necessária para produzi-lo. Prova disso, é o esforço que estou tendo para desconstruir o discurso enganoso da “análise isenta” do jornalista da Folha.

* Luís Humberto Carrijo é comunicador. Formado em jornalismo na Cásper Líbero, com pós-graduação na USP e mestrado na Universidade Autònoma de Barcelona, é fundador da agência de comunicação, Rapport Comunica, especializada em relacionamento com a imprensa para entidades de classe do funcionalismo. É autor do livro “O Carcereiro – O Japonês da Federal e os Presos da Lava Jato”.


 

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